Debatedor: Cezar Nogueira¹ –
CASCO/IESC/UFRJ
Roda de Conversa: Movimentos estudantis
em Saúde e educação Popular
Debatedor: Cezar Nogueira¹ –
CASCO/IESC/UFRJ
Texto Resumo:
Ao longo
da história contemporânea o Movimento Estudantil foi um dos precursores dos
debates e reformulações das políticas sociais brasileiras. As ações encampadas
pelo protagonismo juvenil foram relevantes para os rumos do desenvolvimento
social brasileiro. Assim foi com a campanha “O Petróleo é Nosso” que culminou
com a criação da Petrobrás ainda na década de 50; com as ações de embate a
Ditadura Militar, mobilizadas por diversos setores e tendências estudantis
possibilitando a conscientização nacional e a busca da retomada da democracia;
nas lutas e embates pela Reforma Sanitária, e na construção política e social
da 8ª Conferência, fornecendo o suporte necessário à reformulação das bases do
Sistema de Saúde, e a consequente criação do SUS através da Constituição de 88;
foi assim com juventude “Cara Pintada” que levou as ruas a campanha do “Fora
Collor” propiciando o cenário social favorável a derrubada do então presidente
acusado de corrupção.
É na
herança desse histórico estudantil e popular que o Movimento Estudantil em
Saúde e Educação Popular se insere, é com esse empenho e compromisso, de
auxiliar e conduzir nas mudanças que a sociedade brasileira perpassa, que o
protagonismo estudantil se diferencia dos demais movimentos sociais, e ao mesmo
tempo objetiva os mesmo ideais: uma sociedade mais justa, igualitária, e de
respeito às diferenças, onde todos e todas consigam ter educação de qualidade,
segurança digna e políticas de saúde realmente eficazes e de direito.
Assim vem sendo com as diversas
denúncias das mazelas que assolam a formação dos estudantes universitários _ em
especial da área da saúde _ nas Universidades Públicas do Brasil, através da
campanha “Salve o HU” que estudantes e militantes do Movimento Estudantil da
Área da Saúde vem desenvolvendo. Porém, faz-se necessário fortalecer esta
discussão, para que se enfrente o embate midiático que tenta deturpar o cenário
atual, e a partir das reivindicações dos estudantes justificar a “privatização
dos HU”, distorcendo o que realmente queremos: Hospitais Universitários com
melhor qualidade e estrutura, com mais recursos e alicerçados pela autonomia
universitária. E para isso é unânime no Movimento Estudantil a opinião de que a
EBSERH não é a solução, nem tão pouco o caminho.
É importante frisarmos que as
demandas atuais reorganizam o coletivo dos movimentos sociais, e se refletem de
um acumulo dos movimentos de educação popular. Lidar com as dinâmicas sociais e
levar o conhecimento construtivo aos diversos atores que constroem essa
sociedade no dia a dia são um desafio, e é com esse desafio que o movimento
atual do “Salve o HU” esta lidando, para isso temos de compreender que o
cenário atual não nós é favorável, porém também não é de todo desesperador.
Na opinião do historiador Renato Cancian, da Universidade Federal de São
Carlos, o movimento estudantil sofreu uma inflexão no final dos anos 70, quando
passou a ser liderado por militantes das organizações de esquerda que
priorizavam as reivindicações políticas em detrimento das demandas
educacionais. Essa subordinação à agenda política conduziu aos protestos desse
período em defesa das liberdades democráticas, mas provocou um longo refluxo,
que persiste até hoje, em razão do distanciamento da maioria dos alunos (De
Moraes Freire, 2008, p. 141).
Apesar do reflexo no espelho
ainda se assemelhar com o desenhado por Cancian, o que observamos hoje é uma
mudança qualitativa nas discussões a respeito do ensino na área da saúde,
mudança essa já amplamente conhecida pelos Professores, Alunos e Diretores das
Instituições de Ensino Superior Brasil a fora, e por que não dizer, dos
inúmeros governos que se sucederam até os dias de hoje. O que diferencia o hoje
do ontem, é que esta mudança vem sendo encampada por um coletivo estudantil da
área da saúde com pouca influência dos vícios políticos do tradicional
Movimento Estudantil, vícios esses reproduzidos pelo distanciamento apontado
por Cancian das discussões e reivindicações das demandas educacionais.
Hoje quem vai as ruas lutar
por uma educação de qualidade são jovens que nasceram e viveram nas duas
últimas décadas onde a estabilidade política, o crescimento social e a
realização do “sonho brasileiro” passaram a ser reais e possíveis. Realidade
esta muito diferente da realidade de seus pais ou muitas vezes irmãos mais
velhos que enfrentaram o fim da Ditadura, as “Diretas Já” e o “Fora Collor” nas
ruas. Esses pais e irmãos mais velhos lutaram para construir uma cultura social
do direito básico como princípio; da liberdade de opinião sem repressão; e da
garantia (ou tentativa) de que este país, seus irmão mais novos, e seus filhos
jamais passassem pelo que eles vivenciaram.
Os militantes de ontem
precisaram se aproximar intrinsecamente das discussões da agenda política
nacional, para assim garantir a continuidade e ampliação da educação pública e
do ensino de qualidade. O que ficou na lacuna foram os anos pós “Fora Collor”,
onde o sucateamento da educação pública de qualidade e a privatização do ensino
superior foram às regras nos governos que sucederam o então Presidente deposto.
Os militantes de hoje, 20 anos
depois, começaram a compreender que as lutas pelas demandas estudantis
necessitam retornar a pauta, começaram a compreender a necessidade de um novo
pacto social. A luta hoje _ dos diferentes movimentos sociais_ apesar de ainda
fragmentada e guetizada, começa a se encontrar como que num caminho único. Em
breve o que ocorre hoje com o Novo Movimento Estudantil, ocorrerá com os demais
movimento sociais, pois todos perceberão que a luta que nos uni será a luta
pela garantia dos direitos civis e sociais, será a luta pela garantia do que
foi conquistado para nós, e que hoje é descaradamente ameaçado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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