quarta-feira, 4 de julho de 2012

Roda de Conversa: Movimentos estudantis em Saúde e educação Popular


Debatedor: Cezar Nogueira¹ – CASCO/IESC/UFRJ


Roda de Conversa: Movimentos estudantis em Saúde e educação Popular
Debatedor: Cezar Nogueira¹ – CASCO/IESC/UFRJ

Texto Resumo:

            Ao longo da história contemporânea o Movimento Estudantil foi um dos precursores dos debates e reformulações das políticas sociais brasileiras. As ações encampadas pelo protagonismo juvenil foram relevantes para os rumos do desenvolvimento social brasileiro. Assim foi com a campanha “O Petróleo é Nosso” que culminou com a criação da Petrobrás ainda na década de 50; com as ações de embate a Ditadura Militar, mobilizadas por diversos setores e tendências estudantis possibilitando a conscientização nacional e a busca da retomada da democracia; nas lutas e embates pela Reforma Sanitária, e na construção política e social da 8ª Conferência, fornecendo o suporte necessário à reformulação das bases do Sistema de Saúde, e a consequente criação do SUS através da Constituição de 88; foi assim com juventude “Cara Pintada” que levou as ruas a campanha do “Fora Collor” propiciando o cenário social favorável a derrubada do então presidente acusado de corrupção.
            É na herança desse histórico estudantil e popular que o Movimento Estudantil em Saúde e Educação Popular se insere, é com esse empenho e compromisso, de auxiliar e conduzir nas mudanças que a sociedade brasileira perpassa, que o protagonismo estudantil se diferencia dos demais movimentos sociais, e ao mesmo tempo objetiva os mesmo ideais: uma sociedade mais justa, igualitária, e de respeito às diferenças, onde todos e todas consigam ter educação de qualidade, segurança digna e políticas de saúde realmente eficazes e de direito.
Assim vem sendo com as diversas denúncias das mazelas que assolam a formação dos estudantes universitários _ em especial da área da saúde _ nas Universidades Públicas do Brasil, através da campanha “Salve o HU” que estudantes e militantes do Movimento Estudantil da Área da Saúde vem desenvolvendo. Porém, faz-se necessário fortalecer esta discussão, para que se enfrente o embate midiático que tenta deturpar o cenário atual, e a partir das reivindicações dos estudantes justificar a “privatização dos HU”, distorcendo o que realmente queremos: Hospitais Universitários com melhor qualidade e estrutura, com mais recursos e alicerçados pela autonomia universitária. E para isso é unânime no Movimento Estudantil a opinião de que a EBSERH não é a solução, nem tão pouco o caminho.
É importante frisarmos que as demandas atuais reorganizam o coletivo dos movimentos sociais, e se refletem de um acumulo dos movimentos de educação popular. Lidar com as dinâmicas sociais e levar o conhecimento construtivo aos diversos atores que constroem essa sociedade no dia a dia são um desafio, e é com esse desafio que o movimento atual do “Salve o HU” esta lidando, para isso temos de compreender que o cenário atual não nós é favorável, porém também não é de todo desesperador.
Na opinião do historiador Renato Cancian, da Universidade Federal de São Carlos, o movimento estudantil sofreu uma inflexão no final dos anos 70, quando passou a ser liderado por militantes das organizações de esquerda que priorizavam as reivindicações políticas em detrimento das demandas educacionais. Essa subordinação à agenda política conduziu aos protestos desse período em defesa das liberdades democráticas, mas provocou um longo refluxo, que persiste até hoje, em razão do distanciamento da maioria dos alunos (De Moraes Freire, 2008, p. 141).

Apesar do reflexo no espelho ainda se assemelhar com o desenhado por Cancian, o que observamos hoje é uma mudança qualitativa nas discussões a respeito do ensino na área da saúde, mudança essa já amplamente conhecida pelos Professores, Alunos e Diretores das Instituições de Ensino Superior Brasil a fora, e por que não dizer, dos inúmeros governos que se sucederam até os dias de hoje. O que diferencia o hoje do ontem, é que esta mudança vem sendo encampada por um coletivo estudantil da área da saúde com pouca influência dos vícios políticos do tradicional Movimento Estudantil, vícios esses reproduzidos pelo distanciamento apontado por Cancian das discussões e reivindicações das demandas educacionais.
Hoje quem vai as ruas lutar por uma educação de qualidade são jovens que nasceram e viveram nas duas últimas décadas onde a estabilidade política, o crescimento social e a realização do “sonho brasileiro” passaram a ser reais e possíveis. Realidade esta muito diferente da realidade de seus pais ou muitas vezes irmãos mais velhos que enfrentaram o fim da Ditadura, as “Diretas Já” e o “Fora Collor” nas ruas. Esses pais e irmãos mais velhos lutaram para construir uma cultura social do direito básico como princípio; da liberdade de opinião sem repressão; e da garantia (ou tentativa) de que este país, seus irmão mais novos, e seus filhos jamais passassem pelo que eles vivenciaram.
Os militantes de ontem precisaram se aproximar intrinsecamente das discussões da agenda política nacional, para assim garantir a continuidade e ampliação da educação pública e do ensino de qualidade. O que ficou na lacuna foram os anos pós “Fora Collor”, onde o sucateamento da educação pública de qualidade e a privatização do ensino superior foram às regras nos governos que sucederam o então Presidente deposto.
Os militantes de hoje, 20 anos depois, começaram a compreender que as lutas pelas demandas estudantis necessitam retornar a pauta, começaram a compreender a necessidade de um novo pacto social. A luta hoje _ dos diferentes movimentos sociais_ apesar de ainda fragmentada e guetizada, começa a se encontrar como que num caminho único. Em breve o que ocorre hoje com o Novo Movimento Estudantil, ocorrerá com os demais movimento sociais, pois todos perceberão que a luta que nos uni será a luta pela garantia dos direitos civis e sociais, será a luta pela garantia do que foi conquistado para nós, e que hoje é descaradamente ameaçado.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/EBSERH. Perguntas e respostas sobre a Empresa Brasileira de Serviços hospitalares (EBSERH). Cartilha elaborada pelo Ministério da Educação, 2012. Disponível para Download em: http://www.huufma.br/site/noticias/mostra_noticia.php?id=941

______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. EducarSUS: notas sobre o desempenho do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, período de janeiro 2003 a janeiro de 2004. 1.ed., 1.ª reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

______. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Ver – SUS Brasil: cadernos de textos. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

CARVALHO, YARA MARIA DE; CECCIM, RICARDO BURG. Formação e educação em saúde: aprendizados com a saúde coletiva. In: Campos, Gastão Wagner de Sousa; Minayo, Maria Cecília de Souza; Akerman, Marco; Drumond Júnior, Marcos; Carvalho, Yara Maria de. Tratado de saúde coletiva. Rio de Janeiro, Hucitec;Fiocruz, 2006. p.149-182. (Saúde em debate, 170).

DE MORAES FREIRE, SILENE. Movimiento Estudiantil no Brasil: Lutas Passadas, Desafíos Presentes. In: Revista Historia de la Educación Latinoamericana Nº. 11, Tunja, Universidad Pedagógica y Tecnológica de Colombia, RUDECOLOMBIA, 2008. pp. 131-146

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